Parto em casa: veja argumentos contra e a favor.
O Tempo de Mulher conversou com os obstetras Domingos Mantelli Borges Filho e Carlos Miner Navarro e com a doula Raquel Oliva. Os especialistas se posicionaram a favor e contra o parto em casa. Veja a seguir os argumentos de cada um deles.
Contra: um retrocesso
O ginecologista e obstetra Domingos Mantelli Borges Filho é contrário à prática de partos domiciliares. Ele considera um retrocesso o fato de, com o preparo dos médicos e avanço de inúmeras técnicas, ainda queiram a realização de partos em ambiente não hospitalares, o que pode expor gestante e filho a um risco desnecessário.
Na visão do obstetra, o parto (seja natural ou cesariana, assim como outros procedimentos médicos) deve ser realizado ou supervisionado por um médico que responde ética, cível, criminal e judicialmente por seus atos. Ou seja, é de responsabilidade do médico o acompanhamento do trabalho de parto e de mais ninguém.
'Pode ser que na grande maioria dos partos domiciliares tudo ocorra como planejado. Porém, se apenas 1% der errado, poderá ser uma tragédia sem tamanho que, muitas vezes, poderia ser evitada se a gestante estivesse num ambiente hospitalar', avalia.
A favor: direito da mulher
Já a naturóloga, doula e fundadora da Comparto, Raquel Oliva, é favorável ao direito da mulher em escolher onde e como dar à luz ao seu bebê. Mas, para Raquel, no parto domiciliar não basta apenas ter o desejo.
'Acredito no parto como um evento fisiológico que deve acontecer no ambiente em que a mulher sente-se mais confortável e segura. No caso do parto domiciliar não basta apenas ter o desejo, mas deve se respeitar algumas condições fundamentais para sua realização como uma gestação de baixo risco com acompanhamento, um pré-natal impecável, além de um plano 'B' muito bem estruturado', avalia a doula.
Contra: complicações no parto domiciliar
O obstetra Domingos Mantelli explica que, no parto domiciliar, podem ocorrer todas as complicações que ocorreriam no ambiente hospitalar, desde as simples às mais graves. Nos casos mais graves, como um deslocamento prematuro da placenta durante o trabalho de parto, será preciso correr contra o tempo para salvaguardar a vida da gestante e do bebê.
'O parto, por mais natural que seja, é um procedimento médico passível de complicações mesmo em partos considerados de baixo risco. Caso estas complicações ocorram, será de extrema importância estar num ambiente hospitalar munido de todos os equipamentos necessários para poder reverter o quadro ou até mesmo indicarmos com rapidez um parto cesáreo de emergência', opina o médico.
A favor: menos intervenções hospitalares
O ginecologista-obstetra e defensor do parto humanizado, Carlos Miner Navarro, explica que complicações podem ocorrer tanto em partos hospitalares como domiciliares e que só são elegíveis para o parto em casa gestantes de baixo risco. Se eventualmente algo surgir durante a gestação, o parto domiciliar será contraindicado. Ou se algo ocorrer durante o trabalho de parto como, por exemplo, um aumento da pressão arterial, a gestante deverá ser transferida e o parto terminará no hospital.
'A equipe que atende partos domiciliares deve estar preparada para eventuais problemas como hemorragia pós-parto e ter medicamentos e materiais à mão. O domicílio não pode ficar a grandes distâncias do hospital e um plano de contingência deve estar pronto incluindo meio de transporte, trajeto e hospital escolhido', ressalta Miner.
A doula Raquel Oliva concorda que no ambiente hospitalar a mulher está sujeita a protocolos rígidos. 'Lá ocorre o que chamamos de cascata de intervenções. Uma ação leva a outra e o processo normal do parto acaba sendo prejudicado podendo levar, inclusive, à realização de uma cirurgia cesariana desnecessária', ressalta.
Contra: obstetra é um médico treinado
Os favoráveis ao parto humanizado dizem que a mulher tem menos chances de sofrer intervenções costumeiras desnecessárias que acontecem no hospital como indução com medicamentos, imposição de jejum, lavagem intestinal, entre outros. Domingos Mantelli discorda do argumento e explica que o obstetra é um médico treinado que estuda minimamente nove anos para realizar todos os procedimentos necessários durante um trabalho de parto.
'O obstetra, quando interfere em um parto, não o faz sem fundamentos. Portanto, essas alegações de que o obstetra interfere no trabalho de parto muitas vezes sem necessidade é uma inverdade. O obstetra só irá intervir em um trabalho de parto quando julgar que o mesmo não esteja ocorrendo de acordo com os protocolos convencionados internacionalmente', observa.
O parto humanizado
A doula Raquel Oliva acredita que as mulheres estão mais despertas em relação à naturalidade do parto humanizado. É importante explicar que parto domiciliar não é a mesma coisa que parto humanizado, já que este último pode ser realizado em qualquer ambiente desde que respeitados os desejos da parturiente de que a prática médica seja baseada nas mais recentes evidências científicas, livre de intervenções desnecessárias.
'O parto humanizado é um parto respeitado em que a mulher é a protagonista do processo. Nesse sentido, elas têm buscado cada vez mais equipes favoráveis à evolução fisiológica do processo, tornando a experiência do parto positiva e empoderadora. O livre acesso às informações que a internet possibilita contribui para esta mudança de paradigma', explica a doula.
Mulher: protagonista do parto
O obstetra Carlos Miner Navarro explica que a ideia do parto humanizado é devolver o protagonismo do parto à mulher. 'A ideia de humanizar um parto é oferecer um ambiente de privacidade e respeito, é permitir que a mulher determine o local, os acompanhantes, os procedimentos que deseja e não deseja, escolher a posição que achar mais confortável, entre outras coisas”, defende o médico.
Para o médico, elas estão mais seguras em realizar o parto humanizado porque, com o acesso às informações cada vez mais democratizado, passaram a conhecer seus direitos e opções e a solicitar este modelo de atendimento ao procurar maternidades e profissionais que o pratiquem.
Mas Miner não acredita ser possível generalizar a prática do parto domiciliar no Brasil e diz ser favorável apenas a um modelo individualizado em que equipes atendam somente as gestantes que acompanharam no pré-natal. 'Antes de generalizar esta prática, temos que melhorar muito o sistema de pré-natal, o atendimento ao parto e o gerenciamento de risco', adverte.
O trabalho das doulas
'As doulas são mulheres que, além de prestar suporte físico e emocional, oferecem à mulher e seu parceiro informações confiáveis baseadas em evidências científicas e desmitificando muito dos argumentos médicos intervencionistas e infundamentados. Todos nós sabemos que as cirurgias cesarianas são muito mais lucrativas do que partos normais', esclarece a doula Raquel Oliva.
Ela explica que as doulas e outros profissionais favoráveis à humanização do parto propõem não uma forma alternativa de nascimento, mas, sim, a integração de conhecimentos e a formação de equipes multidisciplinares aptas a oferecer a melhor assistência possível a gestantes, famílias e bebês.
Já para Domingos Mantelli, se uma doula irá fazer o acompanhamento da gestante durante o trabalho de parto em ambiente hospitalar, será de responsabilidade do médico obstetra do hospital supervisioná-la e orientá-la do que deve ser feito.
'O acompanhamento multidisciplinar é sempre bem-vindo e só tem a somar para um desfecho favorável do parto. Porém, a responsabilidade do obstetra durante o trabalho de parto não pode ser transferida para mais ninguém', explica o médico.
Via Tempo de Mulher
1 comentários:
Engraçado que estes médicos contra partos respeitosos, naturais, E domiciliares utilizam sempre a mesma ladainha de riscos baseadas em achismo com o intuito de fazer terrorismos aos pais desinformados. NUNCA utilizam fontes, NUNCA fundamentam suas opiniões com estudos sérios. E NUNCA comparam com os riscos que os partos/cirurgias que eles fazem. As cesáreas eletivas que eles fazem aos montes todos os dias são MUITO mais arriscadas e dão muito mais errado do que os partos domiciliares, mas isso eles podem esconder com a famosa frase: "fizemos tudo que pudemos"..."Seu bb vai pra UTI pq está cansadinho" (não, foi porque foi arrancado do útero com 38/39 semamas!!!)... Pena (para estes "médicos" que as pessoas estão se informando e fugindo de seus erros e manipulações catastróficas. Sinto profunda vergonha alheia ver comentários "médicos" infundados como estes da matéria. Quando vai cair a ficha de que não basta mais só isso? De que não engolimos mais este terrorismo? De que saímos do mundo das Alices, e, a cada dia, mais mulheres acordam do "país das cesáreas maravilhosas"????
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